ATA DA TRIGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 28.06.1988.

 

 

Aos vinte e oito dias do mês de junho do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Primeira Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nova Legislatura, destinada à entrega do Título Honorífico de Líder Comunitário ao Sr. Washington Ayres, concedido através do Projeto de Resolução n.º 02/88 (proc. n.º 192/88). Às dezessete horas e vinte e oito minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a MESA: Ver. Rafael Santos, 2º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; Sr. Tomaz Acosta, representante da FRACAB; Sr. José Valdir Bohn Gass, Presidente da UAMPA; Sr. Washington Ayres, Homenageado; Srª Rosangela Cunha, Esposa do Homenageado; Ver. Hermes Dutra, autor da proposição e, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Hermes Dutra, em nome das Bancadas do PDS, PDT, PCB, PT, PL e PC do B, disse que a Sessão de hoje se notabiliza por ser a primeira vez que esta Casa entrega o Título de Líder Comunitário, destacando que o mesmo representa o reconhecimento da Cidade pelos serviços prestados por aqueles que o recebem em benefício de qualquer segmento da comunidade, a exemplo do Sr. Washington Ayres. O Ver. Flávio Coulon, em nome da Bancada do PMDB, discorreu acerca da importância da vida em sociedade para a sobrevivência do ser humano, salientando a presença do Sr. Washington Ayres nas lutas em prol de melhores condições de vida para a comunidade na qual vive. O Ver. Artur Zanella, em nome da Bancada do PFL, disse de sua satisfação por participar dessa homenagem, destacando a atuação do Sr. Washington Ayres à frente da FRACAB. A seguir o Sr. Presidente convidou o Ver. Hermes Dutra a proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão Comunitário e procedeu à entrega do Troféu Frade de Pedra ao Sr. Washington Ayres, concedendo a palavra a S. Sa., que agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em continuidade, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezoito horas e cinqüenta e três minutos, convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene a ser realizada às vinte horas, para a entrega do Título de Cidadão Emérito ao Sr. Gilberto Lastre. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Rafael Santos e secretariados pelo Ver. Hermes Dutra, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Hermes Dutra, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.

 

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Hermes Dutra, que falará pelas Bancadas do PDS, PDT, PCB, PT, PL e PC do B.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, minhas Senhoras e meus Senhores, a Sessão de hoje se constitui num momento muito especial para a Câmara Municipal, mas quero destacar um que é extremamente significativo: é a primeira vez que se faz a entrega de um título a um Líder Comunitário outorgado pela Câmara Municipal, um título criado pela própria Câmara há mais de seis anos e que até então não havia sido entregue a nenhum cidadão nesta Cidade. Tive o grato prazer, duplo, de ser o pioneiro e de ter a felicidade de escolher essa pessoa simpática, bonachão, e que vocês conhecem melhor do que eu que é o seu Washington. Inclusive, escrevi um discurso aqui que vou ler, mas antes quero fazer algumas digressões que acho importantes: os caminhos da vida são extremamente subjetivos e fogem na maioria, senão na totalidade das vezes, da nossa possibilidade de entendê-los, entretanto uma coisa é certa, não há caminhos retos e nem paralelos, eles se cruzam hoje, amanhã, aqui e acolá e as pessoas não se isolam uma das outras. A cidade grande, é bem verdade tem a desvantagem de separar as pessoas, afinal de contas temos que tomar ônibus para atravessar a cidade, para ir de um local para outro, é uma dificuldade. Então, este afastamento das pessoas tira da cidade grande aquele clima de fraternidade, aquele clima de amizade, aquele clima de boa vigência, que nós do interior, não é seu Washington, temos, e que na impossibilidade de criá-lo na cidade grande, nós procuramos criá-lo ao redor de onde vivemos, na comunidade, no bairro, na rua, no quarteirão onde levamos a nossa existência. E assim tem sido este cidadão que repito, os Senhores conhecem melhor do que eu. Eu me cruzei com ele e até lembrava ele, tentando pegá-lo de surpresa, mas ele tem boa memória, lá pelos idos de 80, quando ele desesperado tentava colocar um telefone na sede da FRACAB e não conseguia, não havia jeito. E ajeita aqui, ajeita dali, se conseguiu dotar a FRACAB de um aparelho telefônico para que melhor pudesse desenvolver as sua atividades. Por isso que “conceder o título honorífico de Líder Comunitário a Washington Ayres é uma força até singela de agradecer o trabalho profícuo que por longos anos este Líder nato vem prestando à comunidade porto-alegrense. Filho de Restinga Seca ali nas bandas de Santa Maria, muito cedo veio para a Capital, desde jovem demonstrou sua vocação para o social, com a atuação nos mais diversos setores desta área, seja em Círculos de Pais e Mestres, Associações de Servidores Públicos, de Moradores, de Professores.

Enfim, em toda área que precisasse alguém disposto a fazer alguma coisa que não fosse para si, lá estava Ayres - nosso homenageado desta tarde. Sua trajetória tem características dos fortes de espírito e dos destemidos. Sua luta na busca de soluções que visassem ao bem comum, por diversas vezes foi demonstrada. Um exemplo dessa característica do Líder que aqui está para receber, com justiça, a homenagem da Câmara Municipal, está no trabalho desenvolvido por ele junto à Federação Riograndense de Associações Comunitárias e de Amigos de Bairro da qual integrou a Diretoria por três mandatos, além de ter desenvolvido ação eficiente no Departamento de Defesa do Consumidor da própria FRACAB.

Pode-se imaginar que a pessoa que atinge determinado degrau não deve voltar mais para baixo. Mas o Washington não pensa assim. E ao contrário, depois de presidir a FRACAB ainda está lá hoje, no Bairro Medianeira, sempre de mão estendida, pronto para ajudar, e não há congresso ou encontro de Associações que reuna líderes comunitários que não esteja ele lá, levando suas teses, discutindo, com insistência, muitas vezes, tentando fazer valer o seu ponto de vista e sabendo acatar, como bom democrata que é, a opinião dos outros. É de sua história também uma intensa participação nos movimentos de luta pela anistia e contra a carestia que sufoca não só nós, mas todo o povo brasileiro, tendo por muitas ocasiões desempenhado atuações de liderança neste sentido. Aliás, acho que com relação a esta luta contra a carestia, acho que território para lutar não vai faltar. Líder Comunitário, ativo participante da comunidade Medianeira e de tantos outros segmentos da nossa sociedade, no momento em que estes necessitassem desfraldar a bandeira de causas nobres em busca do bem-estar social. Assim é o Washington Ayres; excelente liderança, hábil nas artes do pães caseiros, com receitas com que brinda os amigos com o gesto simples dos que sabem partilhar. Faz até uma pizza comunitária e que se a gente tivesse um fogão aqui não duvido que todos iríamos sair, hoje, daqui, comendo uma pizza comunitária. Falar neste Líder, é lembrar suas teses apresentadas nos vários congressos que já vão longe, mais de 20 anos, que ele vem lutando em defesa do movimento comunitário. É tão extenso e rico o histórico deste filho de Restinga Seca, adotado com carinho por Porto Alegre, grande beneficiário às causas da Cidade, que precisaria de muito mais do que os minutos que nos cabem nesta solenidade para falar no resultado do seu trabalho. A ele também podemos creditar a transformação ou parcela dela dos movimentos reivindicatórios das associações de moradores em ação mais efetiva para resolução das necessárias mudanças sociais, porque todo o problema individual de uma comunidade, na verdade está ligado ao todo, da sua Cidade, do seu Estado, e do seu País. São homens como esses que, hoje, nos honram, de maneira especial, com sua presença, projetos de luta e reivindicações, como a criação da Feira de Arte Popular, a Colônia de Férias para trabalhadores e tantos outros que não se perderam ao longo do tempo em que ele as apresentou, mas ao contrário, serviu para criar consciência naqueles que nos congressos participaram e ouviram o Sr. Washington Ayres.

São tantas as realizações do Sr. Washington Ayres que repito, precisaria gastar um tempo enorme para desfilá-las aqui para os Senhores. Se o assunto for cultura, podem ter certeza de que lá encontraremos o Sr. Washington, com essa sua participação de homem simples mas de muito valor. Se quisermos variar e acharmos uma outra faceta do Washington, também descobriremos, é escoteiro, foi Diretor do Escotismo no Grêmio Foot-Ball Porto-alegrense, lá no Grupo de escoteiros Bento Gonçalves, hoje, o maior grupo de escoteiros do nosso Estado.

Enfim, a vida de Washington Ayres está ligada, essencialmente, ao mundo comunitário. Não é desses, que como cogumelos se recolhem dentro de si mesmo; se escondem para não visualizar o que se passa ao seu redor, com medo de alguém lhe peça para participar de alguma coisa, ao contrário, ele é desses que, destemido, dá sempre o passo à frente e em assim fazendo acha sempre que nada mais faz do que a sua obrigação. O certo é que Washington Ayres sempre procurou superar todos os obstáculos e conduziu, por muitas vezes, não apenas uma comunidade de nossa Cidade, mas quase que a Cidade à conquista de resultados de amplo significado social.

É, portanto, já o faço pela terceira vez e deveria fazê-lo pela décima, pela qüinquagésima e não conseguiria com isso alcançar o destaque que nosso homenageado merece, é, repito, uma honra muito especial para esta Casa conceder este Título de Líder Comunitário a Washington Ayres, é também uma forma de agradecer, em nome de todos os que um dia obtiveram do esforço e da dedicação, deste homem público, um benefício para suas comunidades. E neste Título que entregamos ao Washington também estamos a homenagear àqueles que, anonimamente, se somaram ao Washington ao longo dessa luta que foi toda a sua existência, não foi dos últimos dez, quinze ou vinte anos, foi toda a sua vida dedicada a isso. A todos aqueles anônimos, que se somaram a ele e que conseguiram contribuir de forma a que tenhamos hoje, no País, seguramente o movimento comunitário mais organizado, que mais luta e que mais reivindica pelos seus direitos, mostrando que, apesar do Rio Grande andar, hoje, até meio por baixo à nível nacional, nessa parte estamos muito bem, obrigado, em condições de, inclusive, até mesmo exportar tecnologia para outros Estado. Tomo a liberdade, como porto-alegrense de coração, porque também não sou da daqui, de dizer muito obrigado em nome da Cidade, agradecemos pela tua liderança, equilibrada de temperança, que fazem de pessoas como você seres especiais que nasceram para buscar novos melhores caminhos para todos, pessoas marcadas pelo sentimento de doação e do saber partilhar em benefício de todos. Esta Casa tem algumas obrigações. Uns acham que cumpre bem, outros acham que não cumpre o suficiente. Mas, há casos em que a unanimidade se faz presente. É o caso típico que estamos vivendo hoje. É muito fácil homenagear-se o dono de um grande império econômico. É muito fácil se homenagear uma personalidade da televisão, dá IBOPE, enche a Casa de gente, ficam pessoas na rua. Mas, a Casa não pode esquecer das pessoas simples que, com o calo suas mãos, vão construindo pacientemente a construção do movimento comunitário da Cidade. Se a Casa deixá-las de reconhecer passam despercebidas. Daqui a dez, quinze, vinte, trinta ano, quem sabe os seus netos ou seus bisnetos se lembrarão dele, a Cidade o terá esquecido, mas a Casa não vai permitir que isso aconteça, Sr. Washington. O senhor faz parte dos Anais da Casa. Está inserida aqui nesta homenagem. Franca. Sincera e unânime que a Casa lhe faz, reconhecendo os esforços, os trabalhos, as angústias, que, certamente, o Senhor teve que viver ao longo de sua existência voltada para o mundo comunitário. Foi uma honra muito pessoal para mim ter proposto o título. Poderia ter sido outro, mas quis Deus que a inspiração viesse de mim, que como disse já tinha por esses cruzamentos que a vida nos oferece ligações com o Sr. Washington, à nível pessoal e com a sua família em função do movimento escoteiro, pois eu como ele sou escoteiro. Foi um honra pessoal ter proposto este título, aceito pelos demais Vereadores da Casa, unanimemente, que também reconhecem a importância do nosso homenageado na vida social da Cidade, mas não aquele social que nada faz, aquele social que é supérfluo, se reconhece a figura na vida social da Cidade, mas do social propriamente dito, aquele social não egoísta, aquele social em que os outros estão em primeiro do que o eu.

O senhor hoje, Sr. Washington, ao receber este título de Líder Comunitário, recebe, como disse, o reconhecimento unânime da Casa mas do Senhor nós queremos um compromisso, nós não vamos lhes dar este título de graça, pois se lhe dermos este título pelos muitos e muitos anos que dedicou ao movimento comunitário nós queremos do senhor, agora com este título agraciado, muitos e muitos anos de vida pela frente, sempre desse seu jeito simples, dedicado, fazendo pelos outros e, até, mesmo fazendo um pão comunitário e distribuindo a receita de uma pizza que ele temo maior prazer em fazer e que seus amigos mais íntimos sabem.

Meu abraço, Sr. Washington, é muito bom ter gente como o senhor para homenagear e melhor ainda é podermos homenageá-los. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Flávio Coulon, que falará em nome do PMDB.

 

O SR. FLÁVIO COULON: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, minhas Senhoras, meus Senhores, qualquer criança, ao chegar aos bancos escolares, reaprende na teoria uma lição que já sabe desde o berço. A de que somos, os seres humanos, animais sociais. Sempre foi assim. Se mergulharmos no passado, vamos ver que foi graças ao esforço conjunto que o Homem sobreviveu a tantas adversidades, primeiro morando em cavernas, depois construindo as primeiras aldeias, hoje concentrado em gigantescas cidades. Esta ligação, esta dependência do coletivo, nos tempos pré-históricos se dava através da divisão da água, da comida e do calor dos corpos, quando nossos antepassados enfrentavam o inverno protegidos apenas pelas paredes de pedra fria das cavernas. Naquele tempo, todos sabiam bem o grau de dependência que tinham uns dos outros.

O progresso tornou este conhecimento mais complicado. Para ficar nos mesmos exemplos, continuamos dividindo água, mas ela chega a cada um de nós de maneira diferente. Encanada par alguns, de bicas distantes para outros. E cara. Principalmente na Porto Alegre dos dias de hoje, muito cara. Por outro lado, já não dividimos a comida. Cada um de nós trata de caçar sua própria alimentação, não mais usando armas primitivas, mas um arsenal que apesar de moderno também tem características bem diferenciadas: vai da caneta e o talão de cheques, ao punhado de moedas. A quantidade e a qualidade da caça abatida com estas armas está diretamente ligada à sua potência, com evidente vantagem para o cheque ouro e a caneta de prata.

Finalmente, já não dividimos o calos dos corpos, a não ser com nossa família. Na mais pobre das vilas, cada um procura fechar um canto que seja só seu. Somos sociais, sim, mas da porta para fora. Dali para dentro, cada um deseja ter o seu espaço delimitado. Só que se isto é um desejo de todos, nem tantos conseguem torná-lo real. Pior que isto, muitas vezes é a própria estrutura social que mantém as diferenças e a marginalização.

É engraçado, o bicho Homem. Nasce sentindo a necessidade da presença de seus semelhantes. Na escola, aprende que é um “animal social”. Depois fica adulto e esquece tudo isto. Numa sociedade altamente competitiva como a nossa, cada vez mais são esquecidas as prioridades comuns, os objetivos coletivos. O que prevalece é o interesse individual, as normas do que já foi denominado de “Lei de Gérson”, onde só interessa “tirar vantagem em tudo”. Neste processo, que eu chamaria de “egoísmo social”, as diferenças entre pessoas - já nem digo entre classes sociais, masentre pessoas”, mesmo - vão se aprofundando, a qualidade de vida das grandes cidades se deteriora, e o ser humano se desumaniza.

É neste contexto que a luta de pessoas como o companheiro Washington Ayres se torna especialmente importante. Nesta sociedade desumanizada pela competição individualista, poucos são capazes de, como Washington, como tu, dedicarem tanto empenho à conquista de melhores condições não apenas para si próprios, mas para o contexto da comunidade onde vivem.

O trabalho íntegro, o trabalho honesto, o trabalho despido de interesses particulares, sempre tem seu reconhecimento dado pelo coletivo. Aqui estamos, hoje, entregando este título honorífico de “Líder Comunitário” a Washington Ayres, companheiro do PMDB, não por proposição de algum membro da nossa Bancada, mas sim graças à lembrança do ilustre Vereador Hermes Dutra, do PDS. E não há nada de estranho, nisto, porque o trabalho que nosso homenageado desenvolve não é partidário. A luta pelo bem comum extrapola as limitações partidárias, as limitações filosóficas, e até limitações ideológicas. E, quando é bem sucedida, acaba reconhecida por todos os homens de bem.

O trabalho do companheiro Washington Ayres nas lutas comunitárias, a orientação que imprimiu à FRACAB, sua presença constante em tantos episódios que nem podem ser enumerados aqui, fazem dele um Líder verdadeiro. Sua atuação, no entanto, vai além, disso. Vai além dos resultados concretos das lutas que empreendeu. Pois Washington Ayres nos dá também o exemplo a ser seguido. São pessoas como ele que nos proporcionam novamente a possibilidade de acreditar na Humanidade. A esperança de que sejamos, ainda, apesar de tudo, criaturas sociais, interessadas no bem estar do próximo, e que a “Lei de Gérson” não passe de um pequeno incidente a ser transposto.

Meu caro companheiro Washington Ayres.

As dificuldades podem ser muitas. O cansaço às vezes pode ser tentador. Mas o trabalho de gente como tu, corresponde hoje ao trabalho dos apóstolos. Sem o mesmo sentido religioso, é verdade, mas tendo o bem estar dos homens como objetivo primeiro. Nós todos que vivemos nesta Cidade precisamos do teu exemplo. E todos, homens e mulheres que habitamos este planeta, precisamos da inspiração de gente como tu. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, pela Bancada do PFL, o Ver. Artur Zanella.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, meus Senhores e minhas Senhoras, esta é uma homenagem da qual eu fiz questão, no meu Partido, de participar, porque a História, aquela História que nós lemos, nos livros escolares, é sempre a História, em primeiro lugar, dos vencedores de grandes batalhas, de governantes, de religiosos de santos. E a História, esta História didática, ela normalmente inclui o povo como um pano de fundo, que é para justificar a existência daqueles atos heróicos, que, às vezes abatem milhares ou milhões de pessoas, e isto é a figura que se tem da história oficial. E hoje, nós trazemos, nesta Casa, a homenagem a uma pessoa do povo, a uma pessoa que durante toda a sua vida, atuou junto a este povo, que ideologicamente com poucas relações com o orador, que fala neste momento, mas que, durante todo o tempo em que exerci cargos na Prefeitura, em que tive contato com os movimentos comunitários, principalmente, a FRACAB, sempre viu em Washington Ayres, uma pessoa absolutamente ética e absolutamente leal e honesta em seus princípios. Eu acho que o Washington nunca sonhou na vida dele em participar de uma Sessão em que eu o homenageasse, muito menos as minhas Secretárias que, durante o serviço, diziam: “já vem aí o pessoal da FRACAB”. Como se aquilo fosse assim uma fonte de atritos, quando, na verdade, aquilo, para nós, era uma fonte de ensinamentos, de debates em que, às vezes, as posições eram conflitantes, mas sempre leais nas suas posições. Me lembro dessa lealdade, quando pela primeira e única vez, em determinada oportunidade, me pediram o apoio contra a eleição do Washington, que, efetivamente, tinha uma posição muito forte, e eu até considerava forte demais, em relação a disputa, por uma série de fatores. E eu, na oportunidade, pedi a diversas pessoas que ajudassem esta campanha contra o Washington, e uma das pessoas a quem eu havia pedido, esta campanha, não contra ele, mas contra sua candidatura, visitará as lideranças comunitárias para, quem sabe, tentar modificar ou conquistar o seu voto. Foi na casa dele, não o conhecendo, pediu voto contra ele. Lembro da gentileza, da fidalguia com que ele telefonou e me disse que o candidato a quem eles estavam combatendo era ele mesmo. Convidado para uma reunião contra sua candidatura, lá compareceu, pediu, debateu com seus adversários, ganhou a eleição. E continuamos amigos, como sempre fomos. É a mesma pessoa que trata da entrega de folhetos sobre pães e pizzas como sobre conselhos populares. Não os conselhos populares que tentaram que esta Câmara aprovasse. Eu não estava no exercício do mandato quando esses conselhos foram votados nesta Casa, mas e se estivesse votaria contra porque tentou-se e até o próprio Prefeito depois reconheceu alguns pontos, colocar num por projeto de lei uma série de impropriedades. Mas os conselhos populares que o Washington preconiza têm o meu mais irrestrito apoio e a sociedade, uma cidade como Porto Alegre só poderá progredir efetivamente com a contribuição dos órgãos assim denominados oficiais, Prefeitura, Câmara de Vereadores, entidades comunitárias, principalmente. Creio companheiro Washington, que, nos nossos relacionamentos, sempre aquilo que a FRACAB solicitou, conseguiu, aumentou da sua sede, do restaurante comunitário, participei da instalação e até do preço daquele restaurante que hoje não mais existe, porque o Washington e seus companheiros de FRACAB, naquele seu desejo incontido de ajudar, fizeram um preço irreal de tão baixo que eu os alertei que havia muitas formas de ajudar o movimento comunitário, mas aquela não era a melhor, porque eles terminariam na falência, o restaurante, não a FRACAB, que está cada vez mais forte. Mas diz também o Ver. Coulon, também não sabia, que o nosso homenageado, companheiro, dele, Ver. Coulon, no PMDB; creio que qualquer partido teria orgulho de tê-lo como integrante, que não era em qualquer partido que Washington Ayres ingressaria. O Partido deveria ter no seu programa e nos seus atos, a defesa dos movimentos comunitários e da defesa da população.

Então, hoje, em nome do meu partido, em nome do Partido da Frente Liberal, eu venho aqui para uma saudação que eu imaginava um pouco breve, entender um pouco mais, para dizer que nós nos sentimos orgulhosos de termos participado desta comunidade. Que nós sentimos que a Câmara, há cerca de seis anos, conforme afirma o Ver. Hermes Dutra instituiu este Título de Líder Comunitário. Por seis anos não apresentou a Câmara de Vereadores, em seu conjunto, nenhum projeto dando esta honraria a qualquer pessoa. Provavelmente estava esperando que o primeiro homenageado fosse uma pessoa da estatura moral, uma pessoa acima das divergências, estava esperando, enfim, uma pessoa que é o orgulho de todos nós. É esta a minha mensagem Washington Ayres e espero que no futuro, ainda mais, nós tenhamos aqui nesta Casa motivos para fazer novas homenagens e temos orgulho de ter contribuído esta Casa para o destaque de um movimento tão bonito e tão necessário como é o movimento comunitário de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. Sou grato.

(Palmas.)

 (Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Desejo convidar o Ver. Hermes Dutra, autor da proposição, para fazer a entrega ao nosso homenageado de hoje, Sr. Washington Ayres, do título de “Cidadão Honorífico de Líder Comunitário”.

 

(É feita a entrega do Título.)

 

O SR. PRESIDENTE: (Lê.) “A Câmara Municipal de Porto Alegre confere o título honorífico de Líder Comunitário ao Sr. Washington Ayres, pelos relevantes serviços prestados em benefício da paz e do bem estar social em sua comunidade”.

A Câmara Municipal de Porto Alegre instituiu o troféu “Frade de Pedra”, que traduz o apreço da população porto-alegrense a todas as pessoas que de alguma forma prestam serviço a comunidade. O Frade de Pedra, historicamente, traduz a hospitalidade rio-grandense, uma vez que representa o símbolo da fraternidade e das boas vindas.

Quero, nesta oportunidade, entregar ao nosso homenageado o troféu Frade de Pedra que registra a hospitalidade de nossa Câmara àqueles que nos visitam.

(É feita a entrega do troféu “Frade de Pedra”.)

Concedo a palavra ao nosso homenageado.

 

O SR. WASHINGTON AYRES: Alô! Como diz o companheiro aqui: conquistei a boca do microfone para falar. Nós do Movimento Comunitário conquistamos a democracia e a liberdade. Eu aqui estou junto com outros companheiros.

Sr. Presidente, esta simpatia, Ver. Rafael Santos, que conheci como um dinâmico Secretário da Educação Municipal, há muitos anos atrás; meu querido e companheiro de muitas jornadas de muitas lutas, um dos homens jovens e de grande combatividade. Se ele não estivesse aqui representando a entidade-mater, a homenagem seria pela metade. Meu querido irmão Tomaz A Costa, representando a FRACAB neste instante. Do lado dele está uma geração nova de líderes; nós já estamos ficando um pouco reumatizados – aqueles que são da minha geração. O nosso companheiro Valdir Bohn Gass, dinâmico idealista, grande lutador, presidente da UAMPA. Solicito a ele uma salva de palmas. (Palmas.) Minha companheira e irmã que às vezes agüenta meus ranços quando venho de uma reunião, a Rose. Remito, outro irmão (levanta a mão lá), dirigente da Confederação Nacional de Associação de Moradores. (Palmas.) Mora em Brasília – acho que veio especialmente para falar comigo. Saudação a todos os que estão aqui presentes uma série de pessoas e autoridades que eu conheço de há muito tempo. Mas eu pediria a meus amigos e parentes, irmãos de sangue que estão aqui. Gostaria de fazer uma simpatia. Será que o Presidente da Mesa me permite? Pediria aos senhores o seguinte, não é nada de mais. Não é praticamente da Umbanda, é coisa nossa. Vamos fazer um exercício respiratório? Só 3 exercícios. Encher o pulmão de ar, parar um pouco e largar o ar. Está bem? A primeira vez, vamos encher o pulmão, todo o mundo.(Todo o Plenário inspira e expira por três vezes.) Tem gente que não está respirando e depois vai pagar os pecados. Que bom, não é? Este é o ar da democracia, este que acabamos de respirar. Vou dizer aos senhores, que a pior das democracias vale a pretensa melhor das ditaduras. Vejamos senhores, em 1964, organizar o movimento operário de uma determinada região, organizar o movimento camponês de uma determinada região. Os militares cercaram a minha casa e eu com a minha falecida primeira esposa, Professora Cezarina e com o Sinval, que não está aqui – esteve mas já saiu – vai seguir a vocação política do pai, não sei até quando, se a mulher dele permitir, fui corrido a tiros, perseguido pelos militares na estrada de Taquara a Porto Alegre. E, hoje, passados tantos anos, vocês me dão um título. Naquele tempo, naquele longínquo 64, o ar pestilento dos inimigos, dos adversários de nosso povo, de nossa pátria, encheram os ares com suas armas. Eu fui militar mas não aceito o argumento das armas. Recebo este título com humildade, porque acho que apenas estou sendo o reflexo de todas as lideranças, dezenas e centenas de líderes que comigo conviveram durante 20 e tantos anos de opressão. E muitas reuniões fizemos sem ter mesmo a certeza de que nada de pior pudesse acontecer. Então, estas lideranças eu estou agora recebendo este título em homenagem a elas. Líderes bem maiores do que eu, porque eu sou um homem simples; só tive uma esperteza, segui Napoleão Bonaparte, dividi para governar, para mandar. E na FRACAB o quê que eu fiz? Dividi a FRACAB numa montoeira de departamentos. Não é, companheiro Assis Conceição? Está lá um dos maiores líderes que conheci na minha vida. (Levanta o braço.) (Palmas.) Meu irmão Assis Conceição deu toda uma vida pelo trabalho comunitário pela Federação – nós somos irmãos. Ele até comprou uma lambreta para andar de vila em vila, de rua em rua pregando a tese da união do povo. Um grande homem.

Eu quero, aqui, estender esta homenagem, rapidamente, uma homenagem póstuma, àquela pessoa que, durante muitos anos, quase 30 anos viveu comigo e agüentou o meu mau humor, das lutas difíceis que travávamos e que morreu em uma reunião extraordinária da FRACAB, a minha primeira esposa Cesarina. É uma homenagem que quero prestar-lhe; outra é a Orestes Trindade, aquele homem magrinho, meio nervoso, que escreveu a Ata de nº 18 da Direção da FRACAB, “Reunidos na escadaria do Mercado Público e resolvemos realizar o 3º Congresso.” Os líderes comunitários não precisam ter um teto muito acolhedor, podem ter um teto cheio de estrelas do firmamento. Do Congresso tive a honra de ser o Presidente, Wanceslau Fontoura, foi meu companheiro amigo, duas vezes Vice-presidente comigo e que resolveu dar sua própria vida, ele sabia que iria morrer e disse: eu prefiro morrer na rua do que em casa. E morreu num ato público em pleno Auditório Araújo Viana, homem bom, puro, o Wanceslau Fontoura; o José Carlos, homem de cabelos brancos que tive a honra de conhecer há mais de 30 anos, criou a mais poderosa União de Associação de Moradores, a de Caxias do Sul; Alberto Mayer, um homem dedicado, diplomata, um homem que tinha um ombro meio encolhido, porque ele não tinha um pulmão. Ele foi o primeiro ecologista que eu conheci. Até não concordava muito, eu achava que ele estava meio biruta, porque eu pensava: ora, é o mar Mediterrâneo que está sendo atingido pela poluição e nós estamos tão longe. Criamos o Departamento de Defesa do Meio Ambiente na década de 70, ele tinha correspondência com o mundo todo. Grande Alberto Meyer. No meu bairro tem o Verdi, velho César Verdi, com 70 e tantos anos de idade, ia com treme-treme, com a boininha firme, fundador da ARENA, do PDS. Que homem formidável. Coronel Francisco Thomas no jardim de sua residência me dizia: não se aproxime de mim Washington, me deram uma dose muito grande de cobalto. Está vendo esta planta? Está murchando. Morreu segurando a bandeira da Medianeira que tão bem soube dirigir. Eu peço a todos a calorosa salva de palmas a esses homens que citei e a muitos e muitos outros que cada um dos senhores conhece, que lutaram e que morreram. (Palmas.)

Quero estender aqueles que ainda não foram e vou citar rapidamente aqui uma série de homens: o Domingos, 10 anos Secretário da FRACAB, 10 anos dirigindo a FRACAB com eficiência; Capitão Anselmo que ia de muleta, que por sinal nem foi convidado para evitar a emoção dele vir aqui; temos ainda o grande Assis Conceição que sempre estava lá, dando entusiasmo, ânimo, numa FRACAB que não tinha dinheiro nem para comprar um lápis. Realmente, nós não tínhamos recursos; Ivo Fortes dos Santos, está lá o companheiro, esse deu toda uma existência, um dinamismo sem igual, está fazendo uma organização muito grande, lá em Belém Novo, no Lami, extremo sul, sai daqui, vai para lá, quem toma o chá comunitário não deixa de tomar, vai até o fim da vida; Heitor Gomes das Neves, primeiro diretor do Departamento de Transporte defendia os usuários em Porto Alegre. Professor Silvestre Vargas que recebeu o primeiro telefone que o Hermes Dutra conseguiu. Naquele tempo os telefones estavam difíceis, as linhas para o mercado público eram difíceis, ninguém conseguia, nem com o maior dinheiro do mundo. Fomos lá, falamos com o Hermes Dutra, diretor poderoso da CRT, “marajá” e ele deu um jeitinho e dali uns dias aquela coisa negrinha apareceu para nós. (Risos.) Honra e glória para o movimento comunitário. Do lado, está o maior engenheiro, que criou e fundou a CRT: Edy Pederneiras. (Palmas.) Grande cidadão, só com um defeito, eu já perdi esse defeito: ele fuma charuto. Eu me esqueci de fumar e não fumo mais. Temos o Nego Edu, o Edílio Macedo, o mais fino dos políticos que tive a honra de conhecer; Hedy Girardi, que jovem dinâmica, que lutadora. Diva Marques Backes, socióloga, com grande conhecimento político e espírito combativo. Lícia Peres, foi minha Secretária de Cultura com sua elegância, firmeza, educação, candidata à Prefeitura de Porto Alegre. Uma grande mulher. Também tivemos o Orlando Mussoi, homem elegante, com uma força, está recolhendo as chuteiras, mas vamos fazê-lo desistir. Vamos pô-lo na luta. Aqui está o Nasson, do Cristal, outro grande dirigente da comunidade. O João Dib, como nos ajudou. Foi um dos grandes prefeitos, uma das forças para dinamizar a vida da FRACAB. O movimento, algumas vezes, também foi abençoado. Então, tivemos dois religiosos influentes, o Roque Stefen, que trabalha com o Ver. Caio Lustosa, ele foi Presidente da FRACAB; a freira Dileta Todeschini, ex-freira, minha secretária, excelente pessoa, mora numa vila popular. Serafim Lucena, estava aqui, mas deu uma saidinha, um secretário alegre, disposto. O Cezar Buzzato, o Tupy, o Leopoldo. Mas quero fazer uma citação especial a uma senhora, fazia muitos anos que não a via, mas casualmente descobri que ela estava exercendo suas atividades na Câmara, ela foi a alma do primeiro departamento feminino, que criamos na FRACAB, chama-se Grace Irigaray, irmã da Verª Teresinha. Então, todas as quartas-feiras, nós íamos tomar chá com bolacha, e ela reunia as mulheres, porque eu queria que houvesse um processo de eleição. Eu podia indicar a diretora do departamento, mas eu queria que houvesse eleição. Esse departamento funcionou com a Maria Marques Fernandes, com a Norma, e muitas outras, uma equipe de mulheres formidáveis. Hoje o movimento comunitário é igualitário, a metade mulher e a outra homem, existem mulheres participantes. Aqui mesmo há muitas mulheres, vou dar o exemplo, professora Delta, nossa famosa Líder de muitos anos. Aqui também está o meu colega de serviço, Antônio Pádua, fundador da Associação Gaúcha dos Fiscais. O nosso amigo Aristeu Pedroso, peço que o mesmo levante o braço, para todos virem; e os dirigentes da Associação Gaúcha dos Fiscais. O Luiz, também, da Lomba do Pinheiro. Na verdade, esta homenagem eu devia dar, eles são os líderes, eu sou apenas um reflexo. E eu tive esta habilidade, esta esperteza de, num dado momento, fazê-los trabalhar. Como dizia aquele homem, não sei se era militar: “Como é fácil dirigir homens livres, basta apontar o caminho.” Era o que nós fazíamos na FRACAB, eu tinha uma diretoria de vinte, trinta elementos. Aqui se falou muito e pela primeira vez estou entregando este Título. Não é, companheiro Zanella? Muitas vezes nós fomos adversários, adversários leais, num dado momento, mas sempre terminávamos bem e em paz, porque nunca fui sectário. Na minha Diretoria, todos os Partidos que têm assento nesta Casa estavam lá. Alguns diziam: mas como é que você deixa aquele elemento daquele Partido? É um traidor da causa popular, no mínimo um espião. Eu respondia: tenha paciência, ninguém ganha nada aqui, ele está dando uma mão. Nós estamos apontando os caminhos e ele está seguindo, lutando. Que história é essa? Então, eu segurava, às vezes, com muita dificuldade, estes homens. E sempre me dei bem.

Eu quero, aqui, fazer uma homenagem muito especial. Quando eu estive preso na DOPS, em 1964, tinha uma mulher dando um discurso numa redoma de vidro, na Mauá. De repente, veio uma contra-ordem, chegaram os militares do exército, pegaram a mulher, a mim e os outros e nos atiraram num camburão. Esta mulher, que eu pensei que era muito corajosa, desandou num choro, porque ela ia ser libertada e veio a contra-ordem. Tinha cinco ou seis caminhões, altos, tudo iluminando os militares. Pegaram aquela mulher e levaram para a prisão, ela chorando. Eu soube, ontem, através do Gabinete da Verª Bernadete que deu uma coincidência com uma advogada e esta advogada é companheira de Advocacia da Dra. Elida Costa, uma grande mulher, uma grande advogada, uma Líder. Nunca mais a tinha visto e, ontem, falamos por telefone. Foi um episódio curto, mas que me impressionou muito e quero homenageá-la, porque sei que ela sofreu. Mas também foi redimida, Porque a Câmara lhe concedeu um título de Cidadã Emérita. Eu assisti ao crescimento da FRACAB. No início, ela era um movimento reivindicatório, do dia a dia. Era água, esgoto, lixo. Às vezes, chegava um cidadão lá e queria falar com o Presidente da FRACAB. E dizia: “Tem um buraco deste tamanho lá na minha Vila e, quando chove, ninguém entra e ninguém sai daquela Vila. O Senhor tem que dar um jeito naquele buraco.” Eu dizia: “Quem , eu? Dar um jeito no seu buraco?” E ele: “Mas claro, o Sr. Não é o Presidente da FRACAB?” Eu dizia: “Sou, mas cada um cuida de seu buraco, companheiro, eu também cuido dos meus. Eu posso ensina-lo a fazer uma luta para encherem este buraco, isto é outra estória.” A segunda fase, que eu considero importante, foi a fase do esclarecimento. Começamos a pregar o esclarecimento junto às lideranças de bairros. Vejam só: há bairros pobres, onde falta tudo. Falta alimento, falta roupa, falta casa, falta higiene, falta água. E há outros bairros em que sobra tudo, não falta nada. E por que isto? Será que nós temos que estar aqui como meros bombeiros apagadores de incêndio? Ou temos que procurar onde estão os incendiários? Aqui é que estão criando uma questão terrível dentro da sociedade. Foi um processo lento, mas firme. Depois, começamos a questionar a própria questão social, em toda sua amplitude, até chegarmos ao momento atual, e a FRACAB, como movimento comunitário, se constituiu num poder comunitário de respeito, prova disso é que está aqui, nesta Câmara, homenageando um líder comunitário. É uma pena que o pastor Lauro Hagemann, pastor comunista, simpático – o reverendo conhece o pastor Lauro, está ali o reverendo, levanta o braço, está ali – não esteja aqui, porque comunitário quer dizer, em latim, comunista, vocês podem consultar, eu tremi da cabeça aos pés. Gostaria de pedir aos Srs. Vereadores que façam um pacto comigo, porque volta e meia os canhões, nessas repúblicas americanas, teimam em se voltar contra o povo, todos nós que temos uma certa idade, não é presidente Rafael, é um golpezinho daqui, é um golpezinho dali e nós vamos sofrendo. Que doravante os senhores se preocupem com a minha hospedagem, porque a cadeia não é muito boa, não gostei. Há um pacto assinado, em público, Ver. Hermes Dutra, qualquer coisa você me garante. A luta foi muito difícil, claro, levando na brincadeira, outubro de 80, havia uma onda de desejos em Porto Alegre, em Caxias, televisões, jornais, estavam preocupados, assombrados, era uma coisa terrível. Os militares chegavam e destruíam as casas e vi muita coisa que não gostaria de ter visto. Eu vi gente enlouquecendo na minha frente. Vi crianças apavoradas. Então, um dia fomos falar com Rubi Diehl Deputado de cama e mesa do Governador Amaral e pedimos uma audiência. Só que aquela audiência não foi entre meia dúzia. Botamos algumas centenas e centenas de moradores das vilas populares e entrou uma partezinha dentro do Palácio e o Governador Amaral com sua elegância, com a sua firmeza, nos recebeu, ouviu a nossa fala e as ações de despejo naquela época pararam, daquela época em diante. É uma prova de força do movimento comunitário popular. Atingimos o Poder Legislativo através do Rubi Diehl e outros Deputados. Fomos ao Poder Executivo no Palácio Piratini e uma semana depois fomos no Palácio da Justiça com o Desembargador Rocha nos atendeu. Mas ali com uns 30 companheiros. Então, os três poderes, ao mesmo tempo se manifestaram. Pelo jeito a luta valeu e se valeu foi porque o movimento comunitário cresceu de forma extraordinária. Quando eu fui eleito a primeira vez, parece que foram 19 associações que votaram para que a nossa chapa atingisse o poder na FRACAB, quando o deixei em 82, tinha mais de 60 associações, não é Valdir? Hoje, quantas associações têm, no Rio Grande do Sul.

 

O SR. VALDIR: É incalculável.

 

O SR. WASHINGTON AYRES: Então, o movimento cresceu de forma extraordinária. Esta luta valeu o sacrifício. Agora, gostaria, para terminar, colocar que nós sabemos que o País está numa situação terrível, calamitosa. Nós sabemos que no Brasil há duas forças, há dois Brasis. Há dois países. Um país rico, o companheiro sabe que a tecnologia é um fato dentro do Brasil. Produzimos riquezas imensas. Somos uma das maiores economias do mundo. De outro lado, é o País campeão da miséria, um dos países com um dos mais altos índices de miserabilidade. Isto quer dizer gente com fome, gente com doenças, analfabetos. E isto não pode continuar. O que fazer? Uma revolução ou dar uma solução? Opto pela segunda idéia. Talvez algum dos senhores tenha uma proposta de como encaminhar a proposição, só o que fazer, mas como fazer? Aí está o nó gordo da questão. Como avançar o processo político, econômico o social do País? Parece que há um emperramento dentro do País. A coisa não anda, pelo contrário, desanda. Senti-me muito sensibilizado quando o companheiro Zanella falou nos conselhos populares. Realmente, acho que temos de partir por esse caminho. Eu, pessoalmente, defendo a tese de que além dos três poderes da República, Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário, há um quarto poder neste País, que é o poder comunitário, que é o poder da sociedade civil, organizada, que está por aí. Esse poder, essas organizações quais são? São os sindicatos, são as associações de moradores, os centros de pais e mestres, são as entidades de classe, clubes de mães, entidades estudantis e religiosas, centros de tradição, centros de cultura. Quem é que pode desconhecer essa realidade? Existe este poder, a sociedade está aí funcionando plenamente, inclusive os movimentos ditatoriais, os golpes podem fechar o Poder Legislativo, mas a sociedade civil continua. O que nos leva à certeza de que existe este poder comunitário? Leva-nos a admitir a possibilidade de que devemos marchar por um novo tipo de democracia, a democracia participativa porque, na verdade, essa democracia representativa que aí está de eleições periódicas, quando permitem, não está e que se delega o poder para o cidadão defender a nossa vida e os nossos interesses na sociedade, já não está satisfazendo plenamente, já não pode atender os interesses globais da sociedade. Isso nos leva a duas considerações importantes: a primeira, que é chamada democracia representativa dos três poderes constituídos para funcionar esta democracia representativa, plenamente, precisa contar com a participação da sociedade civil organizada, dando assim o surgimento da chamada democracia participativa. A segunda consideração é que já há uma opinião generalizada, uma espécie de consciência de que realmente só a união do poder constituído com o poder comunitário é que será capaz de deflagrar o processo desenvolvimentista dentro deste País. Isso dito, Sr. Presidente, surge a pergunta, Ver. Antonio Hohlfeldt, Vereador que eu amo muito, homem ligado à cultura eu até era muito parecido com ele quando era mais jovem – surge então a pergunta: como se manifesta completamente a chamada democracia participativa? Como ela se manifestaria? A resposta pretendo dá-la de acordo com a realidade. Está no funcionamento dos conselhos participativos democráticos, nos conselhos populares, conselhos comunitários e os conselhos municipais como já está surgindo em alguns lugares. Tais conselhos poderiam ter a seguinte proposição: primeiro a) , Representantes dos poderes Executivos, Legislativos e Judiciários e Comunitários. b) Técnicos da área a ser estudada e trabalhada. Qual a missão desses conselhos? Primeiro analisar a ação estatal, governamental em todos os seus aspectos. Segundo: criticar construtivamente essa ação e terceiro propor e pressionar democraticamente novas ações em defesa do bem comum.

Aos Vereadores de Porto Alegre, creio que cabe uma missão histórica, a de fazer funcionar o Conselho Participativo Democrático para o fortalecimento de nossa democracia, para a defesa de nossas liberdades, para a implantação da justiça social. Temos certeza de que isso vai acontecer, de que vai ter um final feliz, porque os Vereadores, eu os conheço a todos, são homens altamente experimentados e têm sobrada competência para mudar os rumos da nossa história política, econômica, social.

Para terminar, como todo o homem da comunidade, sempre temos uma reivindicação a fazer, uma dessas é a do estudo, a tentativa de se criar esse Conselho, o nome, a maneira vocês vão estudar, eu gostaria de participar, se fosse possível, se essa idéia for levada adiante. A gente sempre está pedindo, não é Ver. Zanella?

Bem, eu, andando, aqui e distribuindo minha receita de pão – eu tenho uma receita boa, a avó Neca, em parte é responsável, porque ela tinha uma receita de bolo de milho que era da avó dela – eu fiz umas misturas e criei o pão comunitário, podem crer, faz um pão de milho, de centeio, de trigo integral, gostosíssimo. Eu andei distribuindo entre os Vereadores e seus Assessores, o Companheiro Rafael, Presidente, gostaria de que essa reivindicação fosse confirmada nos Anais; mas, notei o anseio geral entre os funcionários, de que se instale o mais urgente possível o restaurante comunitário da Câmara Municipal, não só para atender aos ditames da Lei que exige a existência deste estabelecimento, mas também para que homens como eu e outros, eventualmente, sejam homenageados pela Câmara, possam também, em contrapartida homenagear todos vocês. Um lugar, também que seria como um ponto de atração para a Câmara de Vereadores. Nós sairíamos daqui confabulando, bebericando, comendo uns salgadinhos. Isso é muito bom para a democracia, para o entendimento. Lá na FRACAB nós tínhamos jantar dos dirigentes, onde compareciam deputados para comer e a gente trocava idéias. Isso é uma coisa muito bonita e isso deveria ser feito aqui na Câmara. Então, fica aqui essa reivindicação para que se faça esse restaurante.

Agradeço a todos os Vereadores e ao meu guru. Tivemos uma festa de gaúcho, que eu conheci muito pouco, pois participei do Departamento Esportivo há muitos anos atrás e sei que ele é um líder escoteiro. Ele conseguiu o primeiro telefone, conseguiu a instalação do segundo e agora dá ao poder comunitário esse título. Eu vou guardar este diploma – não vou guardar, não, eu vou colocar numa parede, eu não sou de colocar coisas nas paredes mas este eu vou colocar – para que meus filhos e meus netos se espelhem nele. Eu suei a camiseta para consegui-lo. Pior que partida de Grenal.

Eu encerro fazendo votos para que esta Câmara conceda mais e mais títulos e que deixem de manter na gaveta esses títulos, porque as forças populares, não só as elites dominantes, devem receber essa titulação. Isso faz parte do processo, pois eu recebo este título porque vivi e convivi com homens de muito valor que tocaram a FRACAB para dentro. Lá, na FRACAB hoje há um Presidente que foi um homem que teve muitos anos na cadeia. Tive o prazer de conhecer o irmão dele Paulo Franz, um homem que foi preso, era militar torturado e que teve um azar: foi libertado; quando seqüestraram aquele embaixador da Alemanha, ele foi um dos 70 que foram libertados e jogaram-no no Chile. Aí, ele começou a trabalhar para o Salvador Allende quando o coitado do Salvador Allende foi para o brejo ele foi preso, aí quebraram a mão dele. Ele tem um defeito na mão. A Anistia Internacional o libertou e ele foi para a Europa.

Então, nós temos os nossos heróis e peço aos Senhores Vereadores que, por amor de Deus, dêem mais títulos, semeiem como dizia Castro Alves. Não somente livros, é claro que todo mundo deve ler e adquirir conhecimentos, semeiem títulos junto com restaurantes comunitários. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Agradecemos a presença de todos os senhores convidados. Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h53min.)

 

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